Alma, dicotomia, tricotomia e criacionismo

No sentido ordinário da palavra, a alma é uma entidade espiritual, incorpórea, que pode existir dentro de um corpo ou fora dele. "Deus é espírito." "O meu espírito se alegrou em Deus meu salvador" Jo 4:24; Lc 1:47.
A alma é um espírito que habita um corpo, ou nele tem estado, como as alamas dos que tinham sido mortos por causa da Palavra de Deus e pelo testemunho de Jesus" (Ap. 6.9), e espírito é a alma desincorporada.
Os teólogos apresentam duas idéias acerca da alma, a respeito da natureza do Homem e dos irracionais. Uma das idéias pertence aos tricotomitas que diferem consideravelmente entre si. Segundo eles, o Homem compõe-se de três partes, ou elementos essenciais, que vêm a ser, o corpo, a alma e o espírito, 1 Ts 5:25.
O corpo é a parte material da sua constituição; a alma (hb: nephesh) (gr: psyche) é o princípio da vida animal, que o Homem possui em comum com os brutos. A ela pertencem o entendimento, a emoção e a sensibilidade, que terminam com a morte. O espírito (hb: ruah) (gr: pneuma) é o princípiuo do Homem racional  e da vida imortal, possui razão, vontade e consciência.

Deus criou o Homem do barro da terra e inspirou nele um sopro de vida, e depois criou um espírito racional que infundiu nele, Gn 2:7. na morte , o pó ou corpo, volta à terra donde veio,e o espírito volta a Deus que o deu, Ec 12:7. A alma, (hb nephesh hayyah), no sentido de vida animal, Gn 1:21,24 é o elemento que anima o corpo; é física e material em sua natureza e perece como corpo que lhe serve de princípio vital.
A alma, tomada em sentido mais elevado, com referência ao homem, é o princípio racional que ela possui, dom do criador, que o fez à sua imagem e semelhança. Em geral, os escritores bíblicos não fazem distinção entre psyche alma, animal que é a parte inferior do ente humano, e pneuma, ou alma racional, parte superior, desde que ambas formam uma só alma, psyche para distingui-la do corpo. Ambas são, às vezes, designadas em sua unidade pelo vocábulo pneuma, e outras vezes por psyche.
Ordinariamente, os escritores sagrados referem-se ao homem como sendo composto de corpo e alma, ou corpo e espírito, e não de corpo, alma e espírito, a não ser as passagens de 1 Co 15:44 e 1 Ts 5:23 e em Hb 4:12, em que se faz distinção entre a alma animal e a racional, para fins de pura argumentação.
                                                     
Segundo a idéia dos dicotomista, existem apenas dois elementos essenciais na constituição do homem; o corpo, formado do pó da terra e a alma que é o princípio da vida, Gn 2:7. A alma é o princípio de  toda vida quer se fale do homem, quer dos animais: é o princípio de toda a vida física, moral e religiosa. Contém ela duas substância: uma é a alma que sente e recorda, e a outra substância é o espírito que tem consciência e possui o conhecimento de Deus.
A alma do bruto constitui  o seu princípio de vida, recebe as impressões dos objetos externos, transmitidas pelos órgãos sensoriais, é dotada de certo grau de inteligência que a experiência nos mostra existir nos animais inferiores, porém é irracional e mortal. Os brutos perecem, porque Deus não quer que o príncipio de vida, que neles existe, deva continuar. A alma humana é semelhante à do bruto, mas difere dela em ser de ordem superior. Em adição aos atributos da sensibilidade, da memória e do instinto, tem ainda faculdades que são superiores, que pertencem à vida intelectual, moral e religiosa, e cuja existência se perpetua depois que o corpo deixa de existir, não em razão de sua natureza, mas porque Deus assim o quer. Os advogados desta teoria dualista dizem que:

1. A alma da vida, nephesh hayyah, significa apenas existência animada, uma entidade em que habita uma alma vivente. Ninguém pode afirmar isto em referência um bruto, e dize-lo contrário à respeito do Homem.

2. A Bíblia não diz que os animais são dotados de psyché somente, e que o Homem possui tanto o psyché como o pneuma. O princípio vital dos brutos chama-se espírito, ruah, do mesmo modo que a alma nephesh psyché. "Quem sabe se o espírito dos filhos de Adão subirá para cima e o espírito dos brutos descerá para baixo", Ec 3:21.3. Não se nota distinção alguma no  emprego das palavras alma e espírito. As almas dos que foram mortos por causa da palavra de Deus estão nos céus, Ap 6:9; 20.4, dos mesmo modo que os espíritos dos justos consumados, Hb 12:23.

Os tricotomistas citam em seu abono, 1 Ts 5:23: "E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo, para que todo o vosso espírito , e a alma e o corpo, se conservem sem repreensão para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo", cp. Hb 4:12,  provando que o apóstolo Paulo fazia distinção entre a alma e o espírito racional. Respondem vos dicotomistas que a linguagem do apóstolo é inteiramente semelhante a do mandamento: "Amarás ao Senhor teu Deus de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças", Mc 12:30; cp Lc 1:46,47. Quando se diz "Amarás ao Senhor teu Deus" e quando se exorta a "perseverar em oração", tem-se em vista simplesmente mostrar a importância de tais atos para o homem, por meio de palavras diversas. O coração, a alma, a força, a mente, não designam outros tantos elementos essenciais à contituição humana, do mesmo modo que não se pode provar que o corpo, a alma e o espírito o sejam.
A passagem principal que serve de base ao argumento dos tricotomistas  é a de 1 Co 15:44 "E semeado o corpo animal, ressuscitará o corpo espiritual. Se há corpo animal, também o há espiritual. "Dizem eles que a expressão soma psychikon, ou corpo natural, é o corpo que se distingue pelas qualidades do psyché, ou alma animal; isto é, que se distingue pelos apetites e paixões físicas, como sejam a fome a sede e os desejos sexuais, que se baseiam na "carne e no sangue" ou naquela substância de que se compõe o corpo humano atual.
A ressurreição, ou o corpo espiritual, por outro lado, distingue-se pelas qualidades do pneuma ou alma racional. Não se compõe de carne e sangue, mas de uma substância que mais se parece com a alma racional do que com a animal. Há ainda outra interpretação, não somente em harmonia com a doutrina da constituição dual do homem, mas de acordo também com o emprego geral das palavras psychikos e pneumatikos, natural e espiritual. O corpo ressuscitado dos remidos não será conhecido pelas qualidades da vida animal ordinária, será diferente de tudo quanto seja carnal, caracterizando-se pelas qualidades do Homem que é levado pelo espírito. Isto se deprende pelo estudo das próprias palavras. Segundo o uso estabelecido entre os gregos a palavra psyché servia para designar o princípio vital, que, não obstante, podia também aplicar-se à alma desencarnada a parte imortal do homem e órgão do pensamento e so juízo, "Heród. 2.123; 5.124; Platão, tim, 10, i. é., p. 30 b", segue-se, pois, que a palavra psychikos, que designiva primitivamente a vida animal ordinária, conforme o sentido que lhe dão os apóstolos Paulo, Tiago e Judas, 1 Co 2:14; Tg 3:5; Jd 19. A palavra pneumatikos, por outro lado, refere-se quase exclusivamente, segundo as Escrituras, ao pneuma agion, isto é  ao Espírito Santo. Emprega-se em oposição ao que é carnal a tudo quanto se encontra na natureza humana, abandonada pelo espírito de Deus; refere-se ao governo e domínio do Espírito Santo em contraste com o domínio da carne; 1 Co 3:1; denota que é dominado pelo Espírito e que a ele pertence, Rm 1:11; 1 Co 2:13; 12:1. Portanto, o corpo espiritual contrasta com o corpo carnal, em ser livre dos desejos da carne, em elevar-se acima das paixões e apetites naturais ao homem, Mt 22:30, em achar-se na união com o espírito de Deuse em distinguir-se pelas qualidades que caracterizam o homem que é guiado pelo Espírito.